Educação inclusiva e interdependência: oportunidade de aprender com a prática e pensar diferente

O DIVERSA, criado pelo Instituto Rodrigo Mendes (IRM), tem como objetivo colaborar para a área da educação inclusiva por meio da produção e troca de conhecimento. Fundamentou-se na hipótese do valor de se reconstituir, ainda que de modo resumido ou fragmentado, experiências positivas sobre o tema. Com isso, professores e gestores podem comparar, isto é, observar semelhanças e diferenças entre sua própria experiência e a do caso relatado.

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Comparar dessa forma é bom, pois pode confirmar, corrigir, apresentar alternativas, dar referências, mostrar que um projeto complexo como o de uma escola para todos, requer tempo, paciência e confiança em sua possibilidade de realização. Realizar ou observar realizações, reconstituir partes significativas e comparar semelhanças e diferenças possibilitam refletir, tomar consciência, criticar positivamente, rever modos de pensar ou agir em relação a certo tema. Graças a isso se pode conhecer e agir sobre uma proposição, que hoje é aceita como um princípio fundamental – a educação inclusiva.

Fazer ou representar, reconstituir, comparar, refletir e assumir como tema de estudo e realização na prática são formas de reflexionamento. Graças a elas podemos abstrair, ou seja, destacar, selecionar, diferenciar, negar ou afirmar o que valia no paradigma de uma educação não inclusiva. Podemos, igualmente, e, ao mesmo tempo, criar procedimentos, discutir ideias, destacar diferenças, analisar experiências exitosas, reconhecer, enfim, o valor da educação inclusiva.

Interdependência

O pressuposto da educação inclusiva é o da interdependência, em que tudo faz parte de um mesmo todo, sem confundir ou anular diferenças ou singularidades.  Daí que o importante é criar relações complementares e indissociáveis. É um pressuposto interacionista, que acredita na influência e no valor do encontro entre coisas que se completam. Não é assim, também, na vida e no conhecimento? Algo vital para nós, o oxigênio, por exemplo, está fora de nós, é produzido por cinzas estelares das quais, uma dia, fomos ou seremos também uma parte. Algo fundamental para nós, a comunicação, por exemplo, só encontra seu outro lado, quando o que está em um lugar (nos livros ou em outras pessoas) passa para o outro (nós mesmos), ou vice-versa. E o que era ignorância torna-se conhecido.

Mas, não basta interagir, mesmo que de uma forma interdependente, se isso não implicar ou promover aperfeiçoamento nas pessoas e coisas que se relacionam. Esse é o pressuposto de uma educação, que não se basta em transmitir, mas que o faz de um modo melhor, mas benéfico ou adequado para todos aqueles que a recebem. E considerar os educandos, não importa suas condições ou limites de se educarem, é a grande novidade que estamos enfrentando no século atual. E, sua condição inclusiva é apenas um nome que criamos para lembrar o vínculo eterno entre educação, educadores e educandos, formados para uma vida que segue em nós, e depois de nós.


Lino de Macedo é professor titular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP-USP) e membro da Academia Paulista de Psicologia. É docente e pesquisador na área de psicologia do desenvolvimento aplicada à aprendizagem escolar. É autor de “Ensaios pedagógicos: como construir uma escola para todos”, onde apresenta reflexões em favor de uma educação inclusiva em sua perspectiva mais geral.

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