Estamos efetivamente construindo a escola que sonhamos?

Quando queremos melhorar a escola, começamos pensando em respostas para perguntas como: avaliação com nota ou conceito? Professores por disciplina? Tempo integral ou parcial? Uniformes? Aulas de 50 ou 60 minutos? E continuamos a “reformar” a escola, sempre com as melhores intenções – torná-la um lugar para todos, onde todos aprendam, sejam respeitados e valorizados naquilo que têm de melhor.

Mas quando aprofundamos a leitura dos projetos pedagógicos, descobrimos que na verdade estamos trabalhando com o mesmo velho conceito de escola. Sabemos que, do jeito que está, as crianças continuarão a ir enfadadas para a escola, os professores continuarão a adoecer e desistir, os diretores a ficar aflitos com os resultados, e os gestores pressionados por melhores índices criarão, a cada dia, uma novidade.

Escrevo esta introdução porque também já fiz parte desse grupo de educadores ansiosos por tornar a escola pública um espaço verdadeiro de aprender, crescer e transformar. Mas muitas vezes fomos espontaneístas, às vezes autoritários e arrogantes, mesmo quando iluminados por intenções belas e justas.

O que estamos fazendo de verdade? Não estamos inventando uma escola do nosso tempo. Estamos pegando a escola criada com concepções coerentes com a era industrial do século passado – com a homogeneização, o ensinar o mesmo para todos – e tentando rejuvenescê-la, sem mudar suas concepções…. Não está dando certo, como vemos. Mesmo aquelas escolas e redes que têm “bons” resultados não estão, de fato, educando a criança do nosso tempo. Para as novas gerações, oferecemos uma escola esquisita, cheia de “puxadinhos” pedagógicos, de mudanças espontaneístas, e sem identificação com as demandas da sociedade e o desejo de todos: de criar uma escola significativa, que encante, provoque mudanças e a vontade de frequentá-la.

Para mudar é preciso ousar, e o projeto pedagógico da escola precisa refletir essa vontade, uma necessidade urgente e imperiosa. Ganhei um livro, escrito por Richard Gerver, diretor de uma escola primária da Inglaterra, que faz reflexões importantíssimas sobre a necessidade urgente de mudar a escola. Alguns pontos de Crear hoy la escuela del mañana – la educación y el futuro de nuestros hijos (Ediciones SM, Madrid, 2010) são muito provocadores:

Assumir o fato de que a mudança faz parte da educação e sempre será assim. Não é um trabalho para pessoas conservadoras, pois as escolas devem ser lugares em constante estado de inovação e mudanças, de assumir riscos, de criatividade e dinamismo. (…)

Construir nas escolas uma cultura que aceite que a aprendizagem abre a porta para novas aprendizagens e para perguntas ainda maiores. A escola não pode temer o futuro, mas formar adultos que criem com autonomia e ética este tempo que sempre chega.”

Os educadores precisam escrever projetos pedagógicos sabendo que cada escola é única e cada criança especial. Deixo essas provocações para inspirar os gestores que trabalham por essa escola do nosso tempo e estão cansados de fazer mais do mesmo.

 

Maria do Pilar Lacerda é diretora da Fundação SM, professora de história aposentada, ex-secretária municipal de Educação de Belo Horizonte e ex-secretária de Educação Básica do MEC.

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