Um exemplo de parceria entre educação inclusiva e instituição especializada

Desde sua criação, a Federação brasileira de associações de Síndrome de Down (FBASD) tem atuado como articuladora das diversas experiências associativas identificadas com a proposta inclusiva em todo o Brasil. Dada a nossa cobertura nacional, somos testemunhas das grandes dificuldades, felicidades e avanços que a sociedade vem obtendo no sentido de franquear às pessoas com Síndrome de Down e suas famílias o usufruto de todos os espaços sociais, especialmente o espaço escolar.

Em um país com as dimensões do Brasil, entretanto, é evidente que muitas das diferenças existentes decorrem de razões socioeconômicas. Mesmo assim, a atuação da FBASD em conjunto com suas associadas, tem servido de pilar para a concretização das ideias inclusivas, seja através de sua ação política como de sua disponibilidade social em relação às famílias de pessoas com Síndrome de Down. Dessa forma, não é incomum encontrarmos municípios onde as políticas públicas dirigidas ao desenvolvimento da educação inclusiva, por exemplo, encontram-se em um alto nível de desenvolvimento ao passo em que municípios vizinhos encontram-se em muitas dificuldades.

Nesse sentido, a proposta de atuação institucional da FBASD vem marcando-se por fomentar as experiências associativas bem como interagir nos espaços adequados à interlocução política, como conselhos de direitos, e também com todos os poderes e meios de comunicação. É dessa forma que procuramos consolidar e garantir os direitos fundamentais inerentes às pessoas com Síndrome de Down, como o direito à saúde, à participação social, à educação pública e de qualidade etc.

No que diz respeito à educação propriamente dita, a posição da FBASD tem sido a de orientar, em primeiro lugar, a garantia do direito inalienável à educação, colaborando na denúncia de práticas ilegais, como a recusa de matrícula e outras situações discriminatórias e, em segundo lugar, atuando em colaboração com o poder público no sentido de agregar qualidade à escola pública, dentro de um espírito inclusivo.

Acreditamos que a escola é o espaço ideal para a elaboração e construção de uma sociedade efetivamente democrática e também que toda a comunidade escolar deve ser amparada no sentido de oferecer condições dignas de atenção a todos os alunos, especialmente àqueles alunos com deficiência que por tantos anos têm sido alvo da exclusão escolar e da segregação social. Dessa forma, pensamos que há muito ainda por fazer no sentido de qualificar a educação e garantir, além do acesso, a permanência dos alunos com deficiência. Nessa perspectiva, acreditamos que a escola, seja pública ou privada, deve permeabilizar-se da participação das pessoas e construir coletivamente um projeto inclusivo e de construção democrática.

Garantir o atendimento educacional especializado (AEE) na própria escola, evitando-se grandes deslocamentos urbanos e construir um processo de educação onde os professores das classes comuns tenham respaldo técnico e informação adequada é o desejo que alimentamos.

Além disso, pensamos na imperiosa necessidade de redução do número de alunos em sala de aula para que seja possível o atendimento adequado a todos, sem distinção. Pensamos também nos outros apoios disponíveis, tais como professores auxiliares, orientação pedagógica adequada e uma política pedagógica verdadeiramente inclusiva. Sem esta, os recursos empregados sempre serão insuficientes, visto que ela parte do respeito e do reconhecimento à diferença como valor natural de todos os alunos.

Pensamos ainda que os grandes desafios impostos à escola tal como ela é hoje competem no investimento massivo de recursos, em especial quando nos referimos às escolas públicas e na qualificação permanente, tanto dos docentes quanto dos equipamentos escolares, não apenas os que dizem respeito à acessibilidade, mas ginásios esportivos, bibliotecas, etc. O único risco que percebemos em decorrência dessa conjugação de esforços seria o de reverter o grande descrédito que se abate sobre a educação pública e a ainda maior reverberação de experiências positivas, até que elas finalmente sejam a regra e não mais a exceção.


Gecy Klauck é presidente da Federação brasileira das associações de Síndrome de Down, fundadora da Associação de familiares e amigos do Down, de Novo Hamburgo, e mãe de Moara, Marçal e Maíra.

© Instituto Rodrigo Mendes. Licença Creative Commons BY-NC-ND 2.5. A cópia, distribuição e transmissão dessa obra são livres, sob as seguintes condições: Você deve creditar a obra como de autoria de Gecy Klauck e licenciada pelo Instituto Rodrigo Mendes e DIVERSA.

Deixe um comentário