Olá, enquanto professora especialista no Atendimento Educacional Especializado (AEE) para alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) na rede pública do Estado de São Paulo, me deparo também com a situação de alunos com grandes dificuldades de aprendizagem para além dos alunos que atendo, onde auxilio a gestão escolar a realizar relatórios pedagógicos. Identifico que não adianta ter uma proposta adaptada, uma avaliação, se não condiz com o perfil de cada aluno. Não podemos padronizar essas adaptações. O diagnóstico médico apenas indicará o tipo de transtorno ou a deficiência intelectual em seus códigos na classificação do Código Internacional de Doenças (CID). Mas precisamos ir além, identificar o perfil do aluno de forma pedagógica, nortear um mapeamento por uma avaliação que registre suas dificuldades e enfatize suas potencialidades.
Em meus registros e avaliações pedagógicas, eu utilizo as seguintes situações:
• A interação social: observar a interação social do aluno dentro da escola com as pessoas e com grupos, identificar se o aluno tem amigos;
• Funções comunicativas: o modo como se expressa, sua comunicação oral e sua escrita, importante identificar seus gostos e suas afinidades;
• Funções cognitivas: observar sua atenção, percepção, se existe iniciativa e como ela se realiza para a tomada de decisões, quais as estratégias utilizadas para solução de pequenos problemas;
• Perfil comportamental: observar como o aluno age e se comporta diante de situações rotineiras na escola, sala de aula, na hora do intervalo em atividades individuais em grupos.
Esses registros precisam estar integrados com relatos, também da família, das particularidades de ações e atitudes em casa e no meio social em que o aluno vive além da escola. Proposta investigativa pedagógica que não irá apontar apenas as dificuldades e limitações, mas o que o professor e a escola podem propor e criar para adaptar e melhorar suas habilidades para incentivar suas potencialidades.
Cito um exemplo. Tenho um aluno que apresenta uma letra ilegível. Constatei que ele sabe identificá-las e que realiza a leitura, mas realiza uma sequência de letra grupada totalmente ilegível. Criei uma estratégia: adaptei folhas quadriculadas e quadriculei também um caderno meia pauta que contém metade da folha do caderno de desenho com linhas e outra em branco. Essa adaptação realiza uma configuração diferente. A ideia é que esses espaços sejam livremente aproveitados pelo aluno com sua criatividade e que, usando-os, ele vá percebendo que uma palavra, uma frase ou uma história pode se contar com palavras e imagens.
Relato a você que a letra desse aluno está totalmente legível. E sua autoestima aumentada, pois o mesmo se sente valorizado diante de um aprendizado com significações. Enquanto educadores não podemos curar os déficits cognitivos desses alunos, com laudos clínicos ou não, mas podemos identificar suas dificuldades de aprendizagem e propor propostas efetivas adaptadas aos seus perfis no desafio de auxiliar a melhorar sua qualidade de vida.
Em relação ao aluno ir para outra escola, deixe seu relatório pronto com registros de atividades e seu portfólio. Mesmo não existindo no sistema educacional uma proposta de comunicação direta e efetiva que articule entre as escolas um cadastro anual do aluno em relação ao seu perfil pedagógico, peça para sua coordenadora enviar, ou faça como eu fiz no ano de 2017, no final do último bimestre. Coloquei o portfólio com fotos, registros de atividades e até mesmos os cadernos de um dos meus alunos com TEA que havia concluído o ensino fundamental e teria que estar frequentando outra escola próxima de ensino médio. Solicitei junto com a coordenação pedagógica uma reunião com a mãe do aluno e a coordenação da futura escola para expor o perfil do aluno para que a escola pudesse estar preparada e adaptada para recebê-lo. Deixo uma frase para reflexão:
A avaliação não tem o objetivo de aprovar ou reprovar. A criança avança conforme sua autonomia e seu ritmo
(José Pacheco e Maria de Fátima Pacheco, 2012).