Circuito circense na educação infantil une educadores, escola e famílias

A Creche Municipal Magdalena Arce Daou era uma das poucas unidades de educação infantil de Manaus (AM) que contava com uma professora de educação física. Isolada nesse cargo, eu tive dificuldades para encontrar meios de ressignificar atividades para as 16 turmas com que trabalhava. Mesmo durante minha participação no curso de educação física inclusiva do Instituto Rodrigo Mendes (IRM), pensei em desistir. Mas com o apoio da diretora e de outra docente, voltei atrás e, ao longo da formação, desenvolvi um circuito circense que levou muita alegria e diversão para as crianças da unidade.

O vídeo está disponível com recursos de acessibilidade em Libras e audiodescrição.

Localizada na zona sul da cidade, a creche atendia 76 estudantes de um a dois anos em tempo integral e 192 alunos de três a cinco anos de idade em período único. Do total, 18 tinham algum tipo de deficiência e recebiam atendimento educacional especializado (AEE) fora da creche, no Centro Municipal de Educação. Todos os alunos, com e sem deficiência, participaram juntos das atividades propostas.

O projeto de circuito circense teve como objetivo desenvolver e aprimorar as habilidades físicas e motoras das crianças, melhorando sua coordenação, flexibilidade, concentração e força dos membros superiores e inferiores. Ao conseguir fazer exercícios que inicialmente poderiam causar medo e apreensão, elas ainda tiveram sua autoestima e autoconfiança potencializadas. Contamos com todo o apoio da gestão escolar, que não mediu esforços para facilitar nossa busca por conhecimento e materiais.

 

Etapas do projeto e materiais utilizados

O projeto foi baseado em cinco estratégias. A primeira envolveu reuniões com as famílias e teve como objetivo esclarecer para a comunidade sobre a importância de ter crianças com e sem deficiência convivendo em um ambiente comum. A segunda estratégia compreendeu conversas com os demais profissionais da escola para garantir mais apoio pessoal e material.

A terceira etapa foi realizada já com os estudantes. Em sala de aula, exibimos a animação “Cordas”, que narra a relação entre o pequeno Nicolás, um menino com paralisia cerebral, e sua amiga Maria. Em seguida, as turmas fizeram desenhos relacionados ao filme. A penúltima estratégia antes da prática do circuito foi a demonstração das atividades. Realizamos os movimentos individualmente com cada estudante para garantir que se sentissem seguros na execução.

Já os materiais usados para concretizar o circuito circense foram adquiridos “no improviso”. Os bambolês quebrados e cones de segurança da creche tornaram-se um túnel. Com madeira reutilizada e pernas de uma cadeira infantil, criamos uma tábua de equilíbrio. Os tatames foram doados por uma igreja da região. Por fim, consegui uma bola de pilates e um disco de equilíbrio inflável emprestados e comprei tecidos e um trampolim.

 

O circuito circense

A prática do circuito circense foi a última etapa do projeto. Todas as turmas da instituição participaram, cada uma em um horário pré-determinado. Foram montadas sete estações, cada uma com um objetivo específico.

1) Travessia no tatame
• Descrição da atividade: em um tatame de EVA, as crianças menores engatinharam e as maiores se arrastaram, coordenando os movimentos de braços e pernas.
• Objetivo: fortalecimento dos membros inferiores, superiores e da coluna vertebral para os pequenos. Coordenação motora para os maiores.

2) Salto e túnel de bambolês
• Descrição da atividade: os estudantes realizaram dois tipos de movimentos. Primeiro, foram enfileirados cinco bambolês no chão em paralelo com tatames de EVA. O objetivo era saltar de um para o outro, com os dois pés juntos. Em um segundo momento, os alunos passaram por baixo de um túnel formado por cones e arcos de bambolê. Os pequenos atravessavam engatinhando. Os maiores passaram por baixo dos arcos e saltaram entre eles.
• Objetivo: sustentação do tronco e da cabeça e atenção aos comandos.

3) Salto no trampolim
• Descrição da atividade: as crianças pularam sozinhas ou dando as mãos para as educadoras.
• Objetivo: desenvolvimento da força muscular.

4) Alongamento na bola
• Descrição da atividade: com ajuda das professoras, os estudantes sentaram-se sobre a bola de pilates. Aos poucos, eles alongaram a coluna até terminarem o movimento de costas estendidas.
• Objetivo: sustentação do tronco e da cabeça. O movimento também trabalhava a questão da confiança.

5) Equilíbrio no disco
• Descrição da atividade: também com auxílio das educadoras, os alunos subiram em um disco inflável de borracha somente com um pé.
• Objetivo: desenvolvimento dos equilíbrios estático e dinâmico e da concentração.

6) Equilíbrio na passarela
• Descrição da atividade: as crianças caminharam por uma tábua de madeira de cerca de 20 centímetros de largura sem cair.
• Objetivo: desenvolvimento dos equilíbrios estático e dinâmico e da concentração.

7) Balanço no tecido
• Descrição da atividade: com apoio da professora, os estudantes se balançaram livremente envolvidos por um tecido preso no teto do pátio. Colchonetes logo abaixo garantiram a segurança. Desgrudar-se das educadoras era o principal desafio.
• Objetivo: proporcionar sensação de liberdade e favorecer a quebra de limites.

 

Resultados e continuidade do projeto

O circuito circense desenvolvido na Creche Municipal Magdalena Arce Daou criou uma rede entre estudantes, escola e comunidade que me permitiu sair da antiga posição de isolamento. Equipe diretiva e demais professores sensibilizaram-se e se envolveram com o projeto, que chegou até as famílias. Uma das mães, que é graduanda do último ano de educação física, se ofereceu para ajudar voluntariamente.

 

Projeto participante do curso Portas Abertas para a inclusão 2015. Esta experiência faz parte da Coletânea de práticas 2015.

Deixe um comentário