Estudantes se mobilizam para promover aulas de Libras para todos

Rafael, estudante surdo do 6º ano, chegou à Escola Municipal Dom Sílvio Maria Dário, em Itapeva (SP), em 2016. No início, sua adaptação foi complicada. Nenhum professor ou colega conseguia se comunicar com ele, somente a intérprete de Língua brasileira de Sinais (Libras) que o acompanhava. Inquietos com essa situação, os próprios alunos propuseram à direção da unidade uma solução para que pudessem conversar com o amigo: aulas de língua de sinais para toda a turma.

Este vídeo conta com legendas em português (ativadas na barra do player) e Libras

Para colocar a ideia em prática, equipe gestora (na qual sou coordenadora pedagógica), docentes e estudantes trabalharam juntos. Primeiro, foi estabelecida uma parceria com a professora de língua portuguesa, que cedeu parte de seu horário para a iniciativa. Assim, uma vez por semana, toda a classe passou a ter aulas de Libras. Elas eram ministradas pela intérprete e pela docente de português, que estava iniciando sua aprendizagem da língua nessa época.

Libras para todos

O projeto aconteceu durante todo o ano. Nas aulas, as crianças aprenderam sobre o alfabeto, os números, os meses, as cores e em pouco tempo já estavam conversando com Rafael. O garoto passou a se sentir mais incluso na rotina escolar, o que melhorou sua aprendizagem tanto da língua de sinais quanto da portuguesa.

Sala de aula cheia de estudantes. Eles estão com uma das mãos sobre a cabeça, imitando o gesto das professoras a frente.
A ideia de ofertas aulas de Libras para todos partiu dos próprios estudantes. Foto: Arquivo pessoal.
Além dos encontros semanais, os estudantes levaram a iniciativa para fora da sala de aula, impactando toda a comunidade. Eles desenvolveram sinalização em Libras para os espaços da escola e criaram um coral que realizou apresentações musicais em língua de sinais nos eventos culturais da unidade e em pontos da cidade. Em setembro, considerado o mês do surdo, organizamos uma passeata de comemoração pelas ruas do bairro.

Colaboração e reconhecimento

A chegada de outros dois alunos com deficiência auditiva no ano seguinte intensificou o andamento do projeto. As aulas, que antes aconteciam em uma só turma, foram ampliadas, dando origem ao chamado “Clube de Libras”. Nesse novo formato, os encontros aconteceram no contraturno, uma vez por semana e contaram com a presença de cerca de 60 estudantes. O Coral foi mantido e realizou dezenas de apresentações dentro e fora da unidade ao longo do ano.

Grupo de adolescentes posicionados em fila gesticula diante de autoridades políticas.
O Coral de Libras realizou apresentações dentro e fora da escola. Foto: Arquivo pessoal.
Toda a equipe da Dom Sílvio Maria Dário abraçou essa causa e hoje somos reconhecidos por nosso trabalho. Fomos premiados no Desafio Criativos da Escola e pelo Conselho Municipal da Criança e do Adolescente. Não imaginamos mais nossa escola sem a presença e participação conjunta dos alunos com e sem deficiência auditiva. A comunicação entre ouvintes e não ouvintes acontece com naturalidade em nosso cotidiano, oferecendo uma escola inclusiva e de qualidade para todos nossos alunos.

Projeto participante do Desafio Criativos na Escola de 2016.

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